segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Poço





Minha alma tem um poço. Um poço mal cavado. Porém, profundo. Quando as águas amargas do destino a invadem, o poço as abriga.
As bravias águas de sofrimento quebraram-se na rocha resistente que existia dentro de minha alma e tanto bateram que o poço ganhou vida. Não sem dor. Como tudo que se ganha. Porém, as bravias águas jamais voltaram a afogar a alma. Não existe mais sombra de desespero, solidão, perdição... Não há mais sombra de perigo para a alma. Onda de tristeza não é mais aflição. E, como o poço não tem fundo, não enche. E a temperatura da alma permanece sempre baixa.
Minha alma tem um poço, saiba você. E nada pode mais afogá-la. Nem amolecê-la. A rocha se quebrou, mas o poço tomou seu lugar. Não tenho mais proteção de uma rocha, muito menos portas a serem abertas na alma. Só um fundo poço. E ele permanece. Até que um dia, a alma venha a arder. Arder num fogo confortante, num fogo vivo. E, se não for fogo, se for apenas mais água, escoará para dentro do poço como se nunca tivesse por ali passado.
Minha alma tem um poço. E a alma que não tem poço, a vida faz o favor de cavar. E, se a vida não consegue, a água que traz a dor diluída te afoga. Cava teu poço, ajuda tua alma. E espera pelo fogo.