Minha alma tem um poço. Um poço mal cavado. Porém,
profundo. Quando as águas amargas do destino a invadem, o poço as abriga.
As bravias águas de sofrimento quebraram-se na rocha
resistente que existia dentro de minha alma e tanto bateram que o poço ganhou
vida. Não sem dor. Como tudo que se ganha. Porém, as bravias águas jamais voltaram
a afogar a alma. Não existe mais sombra de desespero, solidão, perdição... Não
há mais sombra de perigo para a alma. Onda de tristeza não é mais aflição. E,
como o poço não tem fundo, não enche. E a temperatura da alma permanece sempre
baixa.
Minha alma tem um poço, saiba você. E nada pode mais
afogá-la. Nem amolecê-la. A rocha se quebrou, mas o poço tomou seu lugar. Não
tenho mais proteção de uma rocha, muito menos portas a serem abertas na alma.
Só um fundo poço. E ele permanece. Até que um dia, a alma venha a arder. Arder
num fogo confortante, num fogo vivo. E, se não for fogo, se for apenas mais
água, escoará para dentro do poço como se nunca tivesse por ali passado.
Minha alma tem um poço. E a alma que não tem poço, a vida
faz o favor de cavar. E, se a vida não consegue, a água que traz a dor diluída te
afoga. Cava teu poço, ajuda tua alma. E espera pelo fogo.